O resultado do IPCA
aumenta a defasagem da tabela do imposto de renda, que não é corrigida já tem
cinco anos. Mas economistas consideram impróprio alterar a tabela agora, no
auge da pandemia.
O Sindicato dos Auditores
Fiscais da Receita Federal fez o cálculo. A defasagem acumulada nos últimos 24
anos chega a 113%. Neste período, apenas cinco vezes a tabela foi corrigida
acima da inflação, o que quer dizer que os salários e rendimentos subiram, e a
tabela não acompanhou o mesmo ritmo.
O resultado é que cada vez
menos contribuintes estão isentos de pagar o imposto de renda. Hoje, mais de 10
milhões de trabalhadores que ganham até R$ 1.900 não pagam IR. Se a tabela
fosse corrigida, a faixa de isenção passaria para R$ 4.022 e 21 milhões de
contribuintes ficariam isentos.
É o caso da Maria de
Fátima. "Me ajudaria bastante se ela fosse atualizada. Com esse dinheiro,
eu conseguiria fazer uma pós-graduação ou até mesmo um curso técnico",
afirma a vendedora.
Não há previsão de
reajuste da tabela neste ano. O Sindicato Nacional dos Auditores defende uma
correção parcial, que ajudaria o contribuinte e as contas públicas ao mesmo
tempo.
"A gente apresenta
uma proposta de corrigir até R$ 3 mil. Então, isso não traz uma perda de
arrecadação tão expressiva e aí permite que, com outros ajustes, com outras
reestruturações da própria tabela e mais algumas regras, seja plenamente
possível aplicar essa correção que tanto beneficiará os contribuintes em
geral", afirma Kleber Cabral, presidente do Sindifisco.
Com uma previsão de um rombo recorde nas contas da União no ano
passado, de mais de R$ 800 bilhões, o governo aposta em outra solução: na
reforma tributária, que pode andar no Congresso agora em 2021.
O especialista Marcos
Mendes, pesquisador associado do Insper, alerta que pode ser muito prejudicial
uma correção isolada da tabela, sem outras medidas de ajuste fiscal, em um ano
que ainda sofrerá os impactos da pandemia: "O imposto de renda é pago
apenas pelos 20% mais ricos da população brasileira. Então, você estaria dando
um alívio para essa faixa da população, quando o momento é de olhar para o
outro extremo da distribuição de renda, para as pessoas muito pobres e
vulneráveis que foram afetadas pelo desemprego e pela situação econômica gerada
pela Covid. Em segundo lugar, você teria uma perda de recursos superior a R$ 70
bilhões, caso fosse, por exemplo, duplicada a faixa de isenção do imposto de
renda, que é impensável você perder esses recursos hoje em termos de finanças
públicas. O governo já esta com um déficit de mais de R$ 200 bilhões e tem uma
série de políticas que ele não consegue custear".
E a alta de outro
indicador, o índice nacional de preços ao consumidor, o INPC, de 5,45% no ano
passado, impacta o salário mínimo.
No fim do ano passado, o
governo anunciou que o mínimo em 2021 será de R$ 1.100. Como o índice ainda não
estava fechado, o reajuste foi baseado em uma projeção que considerava que o
INPC seria menor, de 5,26%. Para que não haja perda de poder de compra do
trabalhador, o valor do salário mínimo teria que ser reajustado para R$
1.101,95. O governo ainda não informou se vai fazer uma nova correção.
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