“Ah, mas mulheres
são muito mais gastonas que os homens”. Sim, infelizmente essa máxima é
verdade. Porém, o motivo para isso é o contrário do que a sociedade, muitas
vezes, induz a acreditar: as mulheres pagam mais caro em diversos produtos
simplesmente por serem... mulheres.
Taxas de imposto, discrepância de
preços, atividades não remuneradas. Ser mulher é fazer parte de um maquinário
onde a maior parte do seu dinheiro é retirado e você praticamente nem vê.
Duvida? A gente prova.
Taxa Rosa
O primeiro e mais básico de todos
é o ‘pink tax’ ou, em bom português, a taxa rosa. Essa taxa é a diferença de
valor em produtos destinados para mulheres ou meninas. Segundo uma pesquisa da
ESPM, os produtos rosas ou com personagens femininos são, em média, 12,3% mais caros
do que os regulares.
Estes produtos podem ser
exatamente iguais, mas que possuem um valor até 100% maior, como é o caso das
lâminas. O modelo básico de uma calça jeans, de uma mesma marca, apresentou um
aumento de 23% no preço de peça feminina. Ou seja, a mulher paga mais apenas
para ter um produto para o seu biótipo.
Absorventes caros
E o que falar dos produtos que
não tem versão masculina? Eles conseguem ser ainda mais caros. Absorventes, por
exemplo, tem uma tributação de 34,5% segundo a Associação comercial de São
Paulo. Embora haja a isenção de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados),
entram nessa soma os impostos federais PIS e COFINS e o estadual ICMS.
O preço médio de um pacote com
oito absorventes custa em torno de R$ 5. A quantidade de absorventes depende do
fluxo da mulher ou da menina, mas pode-se dizer, tranquilamente, que não se
gasta menos que R$ 15 para cinco dias de fluxo menstrual.
O valor pode parecer baixo para
quem é das classes A e B, mas a quantia dificulta o acesso de muitas mulheres
ao item – segundo a ONU Mulheres, 12% da população feminina mundial não usa o
item de higiene básica porque não tem condições para comprar.
Aqui no Brasil essa taxa sobe
para 22% entre meninas de 12 a 14 anos e 26% entre as adolescentes de 15 a 17
anos, segundo uma pesquisa realizada pela marca de absorventes Sempre
Livre.
A chamada “precariedade
menstrual” faz com que mulheres usem materiais alternativos para conter o
sangramento, como algodão, miolo de pão e panos. A incontingência dificulta a
frequência em lugares públicos como escolas e trabalho, fazendo com que meninas
e mulheres tenham maiores abstenções nessas atividades.
Atividades
domésticas não remuneradas
Se de um lado as mulheres têm
gastos palpáveis, não podemos nos esquecer dos gastos invisíveis, como as
tarefas domésticas.
Segundo um estudo orientado pela
socióloga Arlie Hochschild e publicado no livro ‘O Mito da Beleza’, 90% das
mulheres e 85% dos homens norte-americanos afirmam que as mulheres que fazem
todas as tarefas domésticas – mesmo se ambos tenham empregos externos do
lar.
No mesmo livro, a economista
Heidi Hartmann calculou quantas horas cada integrante de um casal (de novo,
ambos trabalhadores) e o resultado deu uma diferença de 21 horas a mais durante
a semana para a mulher em relação ao homem.
Esse número pode ser ainda maior
se adicionarmos na equação a presença de crianças. Com a qualidade precária de
serviços públicos como creches e atividades extra-curriculares, as mães acabam
recorrendo a mais gastos, seja de tempo (ficando em casa para cuidar das
crianças) quanto de dinheiro (contratando pessoas para cuidar ou buscar cursos
particulares).
Pressão estética
que reverbera no trabalho
Outro gasto é a chamada
“qualificação de beleza profissional”. Profissões e cargos que demandam grande
visibilidade acabam exigindo uma qualificação física para mulheres.
Numa lista bem básica há serviços
de beleza como físico atlético, dieta balanceada, semblante jovem e descansado,
cabelo hidratado e tingido, depilação, unhas feitas.
Adicionemos a lista itens como
roupas, sapatos e bolsas. E, por último, algo que vem crescendo ano após ano: a
indústria do bem-estar, com seus produtos para a pele, massagens, cursos pagos
de meditação, etc. Homens, quando muito, frequentam academias ou algum
esporte.
Além do gasto em dinheiro nessas
atividades há o gasto de tempo e energia para executá-las. Afinal três horas em
que uma executiva fica sentada na cadeira do cabeleireiro poderia reverberar em
outra atividade ligada ao lazer ou ao trabalho.
Discrepância
Salarial
Como se não bastasse todos estes
gastos, mulheres ainda são pior remuneradas do que os homens. Segundo o Caged
(Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) a participação feminina no
mercado de trabalho tem aumentado, assim como o nível de escolaridade das
empregadas, mas isso não vem reverberado financeiramente.
Do ranking de dez carreiras com
maior geração de postos de trabalho (e que demandam ensino superior), apenas
três tem equiparação salarial entre gêneros. Isso quer dizer que nas outras
sete mulheres ganham menos que homens.
Para se ter uma métrica de comparação,
o posto de analista de negócios é o que apresenta maior disparidade: R$ 5.334
contra R$ 4.303.
A média salarial para homens é de
R$ 3.946 enquanto para mulheres é R$ 2.680, segundo dados da plataforma Quero
Bolsa com base no CAGED.
Vale lembrar que, no ano passado,
a distância salarial subiu 5,6% e foi de 44,7% para 47,24%. Isso aconteceu na
contramão de países desenvolvidos e também do crescimento brasileiro, visto que
a redução diminuía desde 2011.
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